CONTÉM SPOILER: Não recomendo esse post a quem quer/pretende ler este livro pela primeira vez, nem a quem esteja lendo-o. Esse post contém muuuuito spoiler, então, recomendo que siga o conselho e só volte aqui quando tiver terminado sua leitura (beleza?!)
Desde de nosso nascimento, somos condicionados a viver, social e culturalmente, sob uma "redoma" de valores e normas de conduta. Vamos lá, pense em todos os valores que você, independente de sua idade, aprendeu durante todos esses anos com sua família. A convivência de vocês, as regras que que têm em sua casa, seus princípios e, logo, sua identidade. Agora, pense em todos esses valores (o afeto, mãe e pai, laços familiares e relações inter e intrapessoais). O que é normal (ou visto como bonito) para você?
A história se inicia com um grupo de jovens sendo conduzidos pelo diretor ao longo das salas e departamentos do alto prédio cinza, constituído de funcionários e executivos (ou humanos do tipo alfa). Aos jovens, o superintendente mostra como são feitos os bebês e como estes são criados e ensinados ao longo de suas vidas. Os visitantes, em alto grau de excitação e curiosidade, exploram aquele ambiente e conhecem os funcionários durante seu período de expediente e seus postos de trabalho. Enfim, todo o processo de criação de uma sociedade útil-condicionada-feliz-estável é apresentado.
Então, ao longo da narrativa, vemos que o afeto, por exemplo, é algo vulgar para uma sociedade "civilizada" do futuro (637 d.F. - depois de Ford). E por que constituir uma família se você pode produzir grupos de pessoas usando somente, SOMENTE, um embrião? Cara, você pode povoar uma vila ou um bairro com apenas uma célula ovo, através de um processo (fictício) chamado bokanovsky. Nessa civilização absolutamente estável, era possível se deparar com 10, 20, 30 40...1000 gêmeos (ou um grupo bokanovsky), cidadãos exatamente iguais (fisica e quimicamente) predestinados a cumprir uma mesma função social, sem se mover de sua camada e, principalmente, conformado com isso e absolutamente feliz com seu pseudoconhecimento.
O condicionamento desses seres começa desde a sua produção. Os bebês eram feitos e armazenados em bocais, e cada centímetro cúbico de sua formação eram minuciosamente "calculados" e projetados para terem condições de agirem como um alfa, um beta ou um gama (gama mais ou gama menos). Sim, haviam espécies de seres humanos. A diferença entre os alfas e os demais começa na composição química: uma dose a menos de álcool no sangue, gera beleza e estrutura suficiente para fazer um "intelectual", ou um ser superior em relação aos outros (uma vida social melhor, mais favorecida).
Quando os bebês nascem, já recebem lições. A primeira é colocá-los diante de livros e brinquedos ou objetos coloridos e estimulantes e, através disso, gerar um trauma, dando choque neles e, assim, fazê-los odiar a natureza e, logo, procurar um estilo de vida artificial com consumismo imensurável. Outra forma de ensinar esses homenzinhos, até os 13 anos, é através da hipnopedia: mantendo caixas de som ligadas, com discursos/lições de pré condicionamento a eles, durante o sono. Eis uma forma (atchim fictícia) de criar e manter uma sociedade sem conflitos e plenamente estável.
Religião? Não. Família? Credo, vulgar. Relações amorosas estáveis e intensas? Não (um mandamento hipnopédico é: "cada um pertence a todos"). Seria isso uma forma de expor e artificializar os instintos naturais que tornavam selvagens os nossos antepassados?! Quer "fugir" da realidade, suprimir seus problemas? Use o soma. Vemos de forma nua e crua que os valores dos "civilizados" são bem invertidos em relação aos nossos. Note: O SOMA não FAZ VOCÊ RESOLVER SEUS PROBLEMAS, mas faz com que possa suprimí-los, como um verdadeiro covarde sem disposição para enfrentá-los. Isso é a pior forma de estacionar sua vida.
A "aventura" começa quando Bernard, um alfa, bastante diferente e esquisito em relação as outras pessoas e um tanto arrogante, pede autorização ao administrador, Mustafá Mond, para que possa passar uma temporada entre os selvagens. Sua colega, Lenina, interessada por ele há um tempo, aceita seu convite para ir a sociedade "inferior". Quando chegam lá, são instruídos por homens mulatos que lhes avisam para tomar certos cuidados para não se tornarem selvagens também, envolvendo-se com eles. Bernard e Lenina, dentre tantos personagens, são os que, a princípio, dão maior movimento a esta trama.
Se você, meu caro amigo ou amiga, é contra esses valores é expulso da civilização e levado a uma ilha completamente isolada. Você é um selvagem. Você é vulgar e antissocial. Os administradores mundiais seriam odiados por você. Mas eles.... eles são (pseudo) condicionados a viver como um homem civilizado. Bom, a hipocrisia desses líderes não é fictícia. Eis que selecionam o que os homens civilizados irão ler, fazer e o que for uma ameaça a estabilidade social é rapidamente oculta de todos.
Bernard e Lenina ficam horrorizados com tamanha vulgaridade ao andarem pela cidadela. Mães amamentando seus filhos, casais apaixonados caminhando, idosos (envelhecimento natural, algo totalmente abominável para eles, com todos aqueles tratamentos artificiais de beleza e anti-envelhecimento) um local que aparenta pobreza extrema e nenhum recurso tecnológico ou sintético. Entretanto, o que mais surpreendeu-os foi um ritual de tortura que acontecia numa praça, eles vizualizaram ao longe um garoto branco, seminu, sendo chicoteado numa praça pública por ser considerado um bastardo (em meio a todos aqueles indivíduos morenos de cabelos negros e extensos). Daí eles conhecem um outro jovem, John e sua mãe, Linda. Essa mulher era considerada feia e tinha mau odor, mas mal sabiam eles que ela já fora uma civilizada.
O Diretor daquele alto prédio cinza é o pai de nosso querido e loiro de olho azul, John. Nosso sensível e poético selvagem. O que aconteceu foi o seguinte: Tomakin (o diretor) teve um caso amoroso (leia-se uma ficada mais profunda, um carinho mais forte) com Linda e, apesar de nossa mulher civilizada colocar em prática todos os exercícios malthusianos (um método anticoncepcional), engravidou e fora expulsa da civilização.
Apesar de ter sido obrigada a viver como uma selvagem, ela dormia com vários homens (inclusive homens casados). Mas, mesmo assim, criara o menino, muitas vezes o odiando, mas teve um vínculo forte com ele. O garoto cresceu sendo o "excluído" socialmente porque sua mãe (bom, ele a chamava de mãe, assim como qualquer outro selvagem "vulgar" fazia) era considerada uma cadela. E ele pagava o preço por isso, não tendo amigos e ficando sozinho.
Quando Bernard e Lenina voltam para a civilização, junto com Linda e John, recebem tratamentos diferentes. Bernard, de feio e esquisito, passa a ser tratado com furor pelas mulheres (e isso faz seu ego e arrogância crescerem em uma medida espacial) e com mais interesse por todos. Tudo isso porque o selvagem passa a ser a finalidade, todos querem prová-lo. Já Linda, é vista como uma aberração. Seu corpo e sua forma são repudiados.
Tomakin entra em uma depressão após rever Linda e saber de tudo. Sua vida passa a ser consumir o soma. Para Linda, médicos receitam a ela para que consuma soma até morrer por overdose (ela é uma aberração antissocial e acaba sendo "oculta" até seu fim).
O selvagem continua sendo perseguido até o fim do livro. Seja porque pensa diferente, porque age diferente. No início de sua estadia na civilização, John age com o intuito de libertar aquelas pessoas. Após ver sua mãe morrer em seus braços no hospital, por conta do soma, ele vê ali como O FIM DE TODA A HUMANIDADE. As pessoas quase tentam matá-lo por ter-lhes tentado tirar o soma. Depois ele acaba sendo encontrado pela imprensa, sendo mostrado como o LOUCO.
Mais adiante, temos ele na sala de Mustafá Mond, questionando o porque de o mundo ser assim e o porquê de não terem um Deus. Depois um longo debate [Trecho do livro, página 282]:
Depois dessa conversa tensa, John se retira da sala e , de uma vez por todas, da civilização. Ele volta a morar na selva, bem no farol. Em sua cabeça se passam vários pensamentos, em especial sobre Lenina. Ele se pune com chicotadas todas vez que sente sua natureza se manifestando ao pensar no quanto deseja-a, profundamente. Repórteres da civilização o perseguem e ele lhe atira flechas e os agride a cada vez que pisam em sua terra para atormentá-lo.
No final dá aquele suspense "básico". Várias pessoas entram na torre buscando por ele e quando o encontram é com os pés pendurados em seu arco. John comete suicídio.
Durante a trama inteira, pensamos que iria rolar algo entre a Lenina e o John. Era sugerido isso em diversas situações, como aquela parte em que ela vai de taxi até em casa e o selvagem sai do carro para olhá-la. E que no final eles iriam superar e acertar as diferenças e viver uma vida alternativa entre o vulgar e o civil. Mas não, John se rende a pressão. O cara era forte e destemido (e determinado mil cruzes). Mas fomos levados a algo mais realista, justo e, cá entre nós, o final é tão trágico quanto uma boa narrativa clássica shakespeariana. Talvez seja isso que tornou essa obra um dos clássicos de Mr. Huxley.
O Diretor daquele alto prédio cinza é o pai de nosso querido e loiro de olho azul, John. Nosso sensível e poético selvagem. O que aconteceu foi o seguinte: Tomakin (o diretor) teve um caso amoroso (leia-se uma ficada mais profunda, um carinho mais forte) com Linda e, apesar de nossa mulher civilizada colocar em prática todos os exercícios malthusianos (um método anticoncepcional), engravidou e fora expulsa da civilização.
Apesar de ter sido obrigada a viver como uma selvagem, ela dormia com vários homens (inclusive homens casados). Mas, mesmo assim, criara o menino, muitas vezes o odiando, mas teve um vínculo forte com ele. O garoto cresceu sendo o "excluído" socialmente porque sua mãe (bom, ele a chamava de mãe, assim como qualquer outro selvagem "vulgar" fazia) era considerada uma cadela. E ele pagava o preço por isso, não tendo amigos e ficando sozinho.
Quando Bernard e Lenina voltam para a civilização, junto com Linda e John, recebem tratamentos diferentes. Bernard, de feio e esquisito, passa a ser tratado com furor pelas mulheres (e isso faz seu ego e arrogância crescerem em uma medida espacial) e com mais interesse por todos. Tudo isso porque o selvagem passa a ser a finalidade, todos querem prová-lo. Já Linda, é vista como uma aberração. Seu corpo e sua forma são repudiados.
Tomakin entra em uma depressão após rever Linda e saber de tudo. Sua vida passa a ser consumir o soma. Para Linda, médicos receitam a ela para que consuma soma até morrer por overdose (ela é uma aberração antissocial e acaba sendo "oculta" até seu fim).
O selvagem continua sendo perseguido até o fim do livro. Seja porque pensa diferente, porque age diferente. No início de sua estadia na civilização, John age com o intuito de libertar aquelas pessoas. Após ver sua mãe morrer em seus braços no hospital, por conta do soma, ele vê ali como O FIM DE TODA A HUMANIDADE. As pessoas quase tentam matá-lo por ter-lhes tentado tirar o soma. Depois ele acaba sendo encontrado pela imprensa, sendo mostrado como o LOUCO.
Mais adiante, temos ele na sala de Mustafá Mond, questionando o porque de o mundo ser assim e o porquê de não terem um Deus. Depois um longo debate [Trecho do livro, página 282]:
[...] - E o desprendimento, então? Se tivessem um Deus, teriam um motivo para o desprendimento.
- Mas a civilização industrial só é possível quando não há desprendimento. é necessário o gozo até os limites impostos pela higiene e pelas leis econômicas. Sem isso, as rodas cessariam de girar.
- Teriam uma razão para a castidade!- disse o Selvagem, corando levemente ao pronunciar as palavras.(O livro da Bíblia Sagrada, clássicos da literatura e livros de ciência- entre qualquer outra coisa que pudesse "acordar" a sociedade e fazê-los de rebelar- eram escondidos dentro de um cofre na sala do administrador. Infelizmente, as pessoas pagariam caro por essa falsa estabilidade social.)
- Mas a castidade significa paixão, a castidade significa neurastenia. E a paixão e a neurastenia significam INSTABILIDADE. E a instabilidade é o FIM DA CIVILIZAÇÃO. Não se pode ter uma civilização duradoura sem uma boa quantidade de vícios amáveis. [...]
Depois dessa conversa tensa, John se retira da sala e , de uma vez por todas, da civilização. Ele volta a morar na selva, bem no farol. Em sua cabeça se passam vários pensamentos, em especial sobre Lenina. Ele se pune com chicotadas todas vez que sente sua natureza se manifestando ao pensar no quanto deseja-a, profundamente. Repórteres da civilização o perseguem e ele lhe atira flechas e os agride a cada vez que pisam em sua terra para atormentá-lo.
No final dá aquele suspense "básico". Várias pessoas entram na torre buscando por ele e quando o encontram é com os pés pendurados em seu arco. John comete suicídio.
Durante a trama inteira, pensamos que iria rolar algo entre a Lenina e o John. Era sugerido isso em diversas situações, como aquela parte em que ela vai de taxi até em casa e o selvagem sai do carro para olhá-la. E que no final eles iriam superar e acertar as diferenças e viver uma vida alternativa entre o vulgar e o civil. Mas não, John se rende a pressão. O cara era forte e destemido (e determinado mil cruzes). Mas fomos levados a algo mais realista, justo e, cá entre nós, o final é tão trágico quanto uma boa narrativa clássica shakespeariana. Talvez seja isso que tornou essa obra um dos clássicos de Mr. Huxley.
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